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O QUE É INTERTEXTUALIDADE?

Pode-se definir a intertextualidade como sendo a criação de um texto a partir de um outro texto já existente . Dependendo da situação, a intertextualidade tem funções diferentes que dependem muito dos textos/contextos em que ela é inserida.
Evidentemente, o fenômeno da intertextualidade está ligado ao "conhecimento do mundo", que deve ser compartilhado, ou seja, comum ao produtor e ao receptor de textos. O diálogo pode ocorrer em diversas áreas do conhecimento, não se restringindo única e exclusivamente a textos literários.
Na pintura tem-se, por exemplo, o quadro do pintor barroco italiano Caravaggio e a fotografia da americana Cindy Sherman, na qual quem posa é ela mesma. O quadro de Caravaggio foi pintado no final do século XVI, já o trabalho fotográfico de Cindy Sherman foi produzido quase quatrocentos anos mais tarde. Na foto, Sherman cria o mesmo ambiente e a mesma atmosfera sensual da pintura, reunindo um conjunto de elementos: a coroa de flores na cabeça, o contraste entre claro e escuro, a sensualidade do ombro nu etc. A foto de Sherman é uma recriação do quadro de Caravaggio e, portanto, é um tipo de intertextualidade na pintura.
Na publicidade, por exemplo, em um dos anúncios do Bom Bril, o ator se veste e se posiciona como se fosse a Mona Lisa de Leonardo da Vinci e cujo slogan era "Mon Bijou deixa sua roupa uma perfeita obra-prima". Esse enunciado sugere ao leitor que o produto anunciado deixa a roupa bem macia e mais perfumada, ou seja, uma verdadeira obra-prima (se referindo ao quadro de Da Vinci). Nesse caso pode-se dizer que a intertextualidade assume a função de não só persuadir o leitor como também de difundir a cultura, uma vez que se trata de uma relação com a arte (pintura, esculturaliteratura etc).
Intertextualidade é a relação entre dois textos caracterizada por um citar o outro.
























                                Pode-se destacar sete tipos de intertextualidade:





Tipos de intertextualidade


  • Epígrafe - constitui uma escrita introdutória.
  • Citação - é uma transcrição do texto alheio, marcada por aspas.
  • Paráfrase - é a reprodução do texto do outro com a palavra do autor. Ela não se confunde com o plágio, pois o autor deixa claro sua intenção e a fonte.
  • Paródia - é uma forma de apropriação que, em lugar de endossar o modelo retomado, rompe com ele, sutil ou abertamente. Ela perverte o texto anterior, visando a ironia ou a crítica.
  • Pastiche - uma recorrência a um gênero.
  • Tradução - a tradução está no campo da intertextualidade porque implica a recriação de um texto
  • Referência e alusão


Para ampliar essa discussão, vale trazer um exemplo de intertextualidade na literatura. Às vezes, a superposição de um texto sobre outro pode provocar uma certa atualização ou modernização do primeiro texto. Nota-se isso no livro Mensagem, de Fernando Pessoa, que retoma, por exemplo, com seu poema “O Monstrengo” o episódio do Gigante Adamastor de Os Lusíadas de Camões. Ocorre como que um diálogo entre os dois textos. Em alguns casos, aproxima-se da paródia (canto paralelo), como o poema “Madrigal Melancólico” de Manuel Bandeira, do livro Ritmo Dissoluto, que seguramente serviu de inspiração e assim se refletiu no seguinte poema:



Assim como bandeira


O que amo em ti
não são esses olhos doces
delicados
nem esse riso de anjo adolescente.

O que amo em ti
não é só essa pele acetinada
sempre pronta para a carícia renovada
nem esse seio róseo e atrevido
a desenhar-se sob o tecido.

O que amo em ti
não é essa pressa louca
de viver cada vão momento
nem a falta de memória para a dor.

O que amo em ti
não é apenas essa voz leve
que me envolve e me consome
nem o que deseja todo homem
flor definida e definitiva
a abrir-se como boca ou ferida
nem mesmo essa juventude assim perdida.

O que amo em ti
enigmática e solidária:
É a Vida!
(Geraldo ChaconMeu Caderno de Poesia, Flâmula, 2004, p. 37)


Madrigal melancólico


O que eu adoro em ti
não é a tua beleza.
A beleza, é em nós que ela existe.
A beleza é um conceito.
E a beleza é triste.
Não é triste em si,
mas pelo que há nela de fragilidade e de incerteza.

(...)

O que eu adoro em tua natureza,
não é o profundo instinto maternal
em teu flanco aberto como uma ferida.
nem a tua pureza. Nem a tua impureza.
O que eu adoro em ti – lastima-me e consola-me!
O que eu adoro em ti, é a vida. (Manuel BandeiraEstrela da Vida Inteira, José Olympio, 1980, p. 83)
A relação intertextual é estabelecida, por exemplo, no texto de Oswald de Andrade, escrito no século XX, "Meus oito anos", quando este cita o poema , do século XIX, de Casimiro de Abreu, de mesmo nome.

]Meus oito anos

Oh! Que saudade que tenho

Da aurora da minha vida,

Da minha infância querida

Que os anos não trazem mais

Que amor, que sonhos, que flores

Naquelas tardes fagueiras

À sombra das bananeiras

Debaixo dos laranjais!

(Casimiro de Abreu)

"Meus oito anos"

Oh! Que saudade que tenho

Da aurora da minha vida,

Da minha infância querida

Que os anos não trazem mais

Naquele quintal de terra

Da rua São Antonio

Debaixo da bananeira

Sem nenhum laranjeiras!

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