quarta-feira, 3 de março de 2010

Desabafo de uma professora

Desabafo de uma professora


"As consequências atingem toda a sociedade.
Comecemos por educar realmente nossas crianças, em casa, no condomínio... no bairro, etc."
"Esta publicação é um relato de uma professora sobre a realidade da escola pública. Sem o apoio da mídia, só nos resta a internet para divulgar o que acontece."

 

PROFESSOR – UMA ESPÉCIE EM EXTINÇÃO
 Por Verônica Dutenkefer (20/06/2009)
 
Esse texto que escrevo precisamente agora é mais um desabafo.
Desabafo de uma profissional que está lecionando há mais de 22 anos e que não sabe se sobreviverá por mais dez anos,  que é o tempo que ainda precisará trabalhar (por mais que ame muito o que faz).
Trago comigo muitas perguntas que não querem calar. E talvez a mais inquietante seja: O que será necessário acontecer para se fazer uma reforma educacional neste país????
Constantemente, ouço ou leio reportagens com as autoridades educacionais proclamarem a má formação de seus professores. Culpando as universidades, a falta de cursos de formação e culpando-nos, evidentemente.
Questionamentos:

Como um professor de escola pública pode fazer o seu trabalho se ele precisa ficar constantemente parando sua aula para separar a briga entre os alunos, socorrer seu aluno que foi ferido por outro aluno, planejar várias aulas para se trabalhar os bons hábitos, na tentativa vã de se formar cidadãos mais conscientes e de melhor caráter?
Nos cursos de formação nos é passado constantemente a recusa de um programa tradicional e conteudista, mas nossas avaliações de desempenho das escolas, nossos vestibulares e concursos públicos ainda são tradicionais e  nos cobram o conteúdo de cada disciplina.
Como pode num país.....num estado...num município haver regras tão diferentes entre a rede particular e pública?
Na rede particular as escolas continuam conteudistas, há a seriação com reprovação, a escola pode suspender ou até mesmo expulsar um aluno que não esteja respeitando as regras daquela instituição.
A rede pública vive mudando o enfoque pedagógico (de acordo com o partido que ganhou as eleições), é cobrado cada vez menos do aluno, não se pode fazer absolutamente nada com um aluno indisciplinado que até mesmo coloca em risco a segurança de outros alunos e funcionários daquela instituição..
Dia a dia...minuto a minuto... os professores são alvos de agressões verbais e até mesmo físicas pelos alunos. A cada dia somos submetidos a níveis de stress insuportáveis para um ser humano.
Temos que dar conta do conteúdo a ser ensinado + sermos responsáveis pela segurança física de nossos alunos + sermos médicos + enfermeiros + psicólogos + assistentes sociais + dentistas + psiquiatras + mãe + pai ......
E, quando ameaçados de morte, se recorremos a uma delegacia pra fazer um boletim de ocorrência ouvimos: "Isto não vai adiantar nada!"
Meus bons alunos presenciam o mal aluno fazendo tudo o que não pode ser feito e não acontecendo nada com ele. É o exemplo da impunidade desde a infância...
Meus bons alunos presenciam que o aluno que não fez absolutamente nada durante o ano, passou de ano como ele, que se esforçou e foi responsável.
Houve um ano que eu tinha um aluno que era muito bom. E ele começou a faltar muito e ir mal na escola. Os colegas diziam que ele ficava empinando pipa ao invés de ir pra escola. Um dia, tive uma conversa com ele, e perguntei o que estava acontecendo? E ele me disse: "Prá que eu vou vir prá escola se eu vou passar de ano mesmo assim?"
Então eu procurei aconselhar (como faço com meus alunos até hoje) que ele devia frequentar a escola, não para tirar notas boas nas provas ou passar de ano. Ele deveria vir à escola para aumentar seu conhecimento que é o único bem que ninguém poderá roubar.Que a escola iria ajudá-lo a aprender e trocar conhecimentos com os outros e ajudá-lo a dar uma melhor formação na vida..
Depois dessa conversa ele não faltou mais tanto...mas nunca mais voltou a ser o excelente aluno que era.
Qual a motivação de ser bom aluno hoje em dia?
Seus ídolos são jogadores de futebol que não falam o português corretamente e que não hesitam em agredir seus colegas jogadores e até mesmo os árbitros. Ensinando que não é necessário haver respeito às autoridades e aos outros.
Ou são dançarinas que mostram seu corpo rebolando na televisão e posando nuas para ganhar dinheiro.
 Para quê eu me matar de estudar se há tantas profissões que não são valorizados e nem respeitadas? ??
Conheci (e ainda conheço e convivo) ao longo de minha carreira na escola pública, inúmeros profissionais maravilhosos. Pessoas que amam a sua profissão, que se preocupam com seus alunos, que fazem trabalhos excepcionais. Que possuem um conhecimento e formação excelentes, mas que estão desgastados e quase arrasados diante da atual situação educacional.
Li, há poucos dias, num artigo que os cursos de filosofia, matemática, química, biologia e outros todos ligados à área de magistério não estão tendo procura nas universidades.
Lógico!!!!!Quem é que quer ser professor??? ??????
Quem é que quer entrar numa carreira que está sendo extinta, não só pela total desvalorização e desrespeito, mas também pela falta de segurança que estamos enfrentando nas escolas?
Fiquei indignada com uma reportagem na TV (que aliás adora fazer reportagens sensacionalistas colocando o professor sempre como vilão da história) em que relatava que numa escola um aluno ameaçava os outros com um revólver e, num determinado momento, o repórter perguntou:"Onde estava o professor que não viu isso??!!"
E agora eu pergunto: "O que se espera de um professor (ou de qualquer ser humano), que se faça com uma arma apontada pra você ou pra outro ser humano??? Ah...já sei...o professor deveria enfrentar as balas do revólver!!!! Claro!!! As universidades e os cursos de aperfeiçoamento de professores não estão nos ensinando isso..
Vocês tem conhecimento de como os professores de nosso país estão adoecendo??? ?
Vocês sabem o que é enfrentar o stress que a violência moral e física tem nos submetido dia a dia?
Você sabe o que é ouvir de um pai frases assim:
"Meu filho mentiu, mas ele é apenas uma criança!"
"Eu não sei mais o que fazer com o meu filho!"
"Você está passando muita lição para meu filho, e ele é apenas uma criança!"
"Ele agrediu o coleguinha, mas não foi ele quem começou."
"Meu filho destruiu a escola, mas não fez isso sozinho!"
Classes super lotadas, falta de material pedagógico, espaço físico destruído, violência, desperdício de merenda, desperdício de material escolar que eles recebem e, muitas vezes, não valorizam (afinal eles não precisam fazer absolutamente nada para merecê-los), brigas por causa do "Leve-leite" (o aluno não pode faltar muito, não por que isso prejudica sua aprendizagem, mas porque senão ele não leva o leite.)
Regras educacionais dissonantes de acordo com a classe social dos alunos.
Impunidade.
Mas a educação não vai bem, por causa do professor..
Encerro esse desabafo com essa pergunta que li há poucos dias:
 
Essa pergunta foi a vencedora em um congresso sobre vida sustentável.

"Todo mundo  'pensando' em deixar um planeta melhor para nossos  filhos...  Quando é que 'pensarão' em deixar filhos melhores para o nosso planeta?"

O BOM NESTE PAÍS É SER POLÍTICO. APOSENTA-SE COM 8 ANOS DE "TRABALHO(?) ", E QUE SALÁRIO!!! (sem contar que não precisa grande formação acadêmica pra isto, infelizmente...)
--




Fonte: Recebi este conteúdo por e-mail.

4 comentários:

  1. Ola Rose
    O texto que voce nos apresenta vem de encontro a uma realidade que encontramos em diversas instituições de ensino pelo país.
    Ultimamente a função do "professor" foi transformada em "gerenciador de crises" fugindo assim de seus propósitos educacionais.
    Há um tempo atraz, nós professores tinhamos o prazer de estar em uma sala de aula para darmos continuidade aos ensinamentos familiares e complementarmos os conhecimentos de nossas crianças e jovens.
    Hoje nos deparamos com grandes absurdos em sala de aula, e assim, não temos tempo de formar nossos alunos.
    Algumas legislações específicas ao serem publicadas levaram o "aluno" a um espaço até então desconhecido e que não estavaem seu currículo, ou seja, a "desordem social" agora faz parte da sala de aula.
    Não podemos conviver com esta realidade e devemos lutar para que nossos governantes alterem certas leis a fim de que o ensino possa ser novamente o alicerce do crescimento e do conhecimento em nossas escolas.
    Além disto temos o reflexo das crises familiares, onde crianças fugindo de suas realidades nos lares encontram na escola o local ideal para manifestarem suas revoltas.
    Tudo o que vem acontecendo nas escolas é o resultado de uma sociedade esquecida e de familias desestruturadas.
    Não sei onde vamos chegar.
    Mas se continuarmos assim, deixo minha profissão.
    Adorei sua postagem
    Um forte abraço
    Mad

    ResponderExcluir
  2. Olá Madresgate!

    O relato da professora Verônica Dutenkefer é a prova que algo tem que ser feito com urgência.Medidas devem ser tomadas pelos órgãos educacionais, porque a realidade é muito difícil de suportar.As instituições de ensino público devem fornecer ao corpo docente mecanismos ou um maior suporte em determinadas áreas.Todas as escolas deveriam ter psicopedagogo, fonoaudiólogo, oftalmologista, psicólogo e um médico clínico. para que certas deficiências sejam diagnosticadas previamente.
    Ah! Se isso fosse possível, que bom seria.Assim,evitaria o desgaste, aborrecimentos... do professor em determinados momentos relacionados ao comportamnento do aluno. Não é fácil lecionar! Os relacionamentos pessoais são complicados e requerem um cuidado especial da escola.Conflitos externos, familiares atrapalham o desenvolvimento do estudante.A família deve participar das atividades da escola, acompanhar o filho nos deveres,enfim mostrar interesse na vida dele. Isso é fundamental!
    A escola pública deve ser mais pluralista, proporcionar aos alunos atividades do interesse pessoal.Abrir o leque!!
    Quando eu lecionava, percebia que alguns alunos estavam totalmente desmotivados na obtenção de conhecimento, mas eu notava, também habilidades incríveis, maravilhosas em determinados alunos,até os indiquei para buscarem alguns projetos, como Grael, Kelly e outros, tão interessantes e gratuitos.
    Nossa!A nossa realidade era diferenciada em vários aspectos. No entanto, quando eu levava livros infantis, jogos educativos, brinquedos, etc. Eles interagiam com prazer e aprenderam conceitos básicos ludicamente. Estes materiais eu os recolhi através de doações dos meus vizinhos e alguns foram doados por mim.
    Pensando bem, o aluno, geralmente é curioso, observador... e hábil, basta o professor, achar o canal e sintonizar com o dele.Isso é complicado,mas conhecendo...conversando com o aluno e com a família, se descobre muito a respeito da vida dele. O por quê ele cometeu certas atitudes...agressivas.
    Finalizando, esses momentos foram valiosos e gratificantes para mim.Constatei que algumas instituições de ensino da rede pública não possuem certos recursos que o professor necessita.
    Infelizmente!


    Mad, obrigada pela visita e comentário.
    Gostei muito!!

    Um forte abraço.
    Rosemary Quintas

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  3. Esse relato infelizmente é realidade pura...
    Fica-se então a indignação pela desvalorização do professor.
    Li os dois comentários, e faço minha suas palavras e do (a) Madregaste também... Perfeito nas colocações e opiniões!

    Ser professor p que? Uma pena, mas se não acontecer alguma mudança de atitude dos nossos governantes e sociedade em geral, infelizmente essa profissão tão linda poderá acabar! (Ou piorar)

    Beijos querida

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    Respostas
    1. Débora, a realidade é grave e alarmante, principalmente na rede pública de ensino. Isso é lamentável!
      A sociedade deveria estar indignada e apoiar mais a profissão do professor,mas alguns segmentos dela não se importam com ela, e por sua vez,o governo faz muito pouco pela Educação de qualidade para esta rede, pois não é de seu interesse ver o povo instruído e com senso de crítica. O gasto com a Educação é irrisória comparando com outros países desenvolvidos,os governantes têm que valorizar, qualificar, investir,aprimorar...remunerar mais o profissional desta área. É triste, ver um professor menosprezado por uma sociedade que se diz "Culta".

      Concordo com você, a desvalorização do professor é indigna para com os professores. Infelizmente, a tendência é piorar. Então,me pergunto diariamente: Quando esse quadro mudará?

      Querida amiga, muito obrigada.
      Seu comentário é relevante e coerente com a realidade educacional brasileira.
      Beijos

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