Opinião: Quando os pais assumem novos relacionamentos
Depois do divórcio, muitas pessoas reconstituem sua vida amorosa.Situação não pode ser encarada como forma de traição aos filhos.
Na coluna anterior, comentamos sobre o aumento do número de divórcios e da necessidade da intervenção do estado em algumas situações familiares, como é o caso da alienação parental (situação em que um dos pais desqualifica o outro).
Esta semana, comentaremos outro aspecto relacionado ao divórcio e que costuma gerar dúvidas naqueles que passam por essa situação com filhos. Muitas pessoas que se divorciaram vão aos poucos reconstituindo sua vida amorosa. Alguns encontram novos parceiros rapidamente, outros nem tanto.
Há aqueles que nunca mais se envolvem com ninguém. Isso varia de um para outro e não há regras, depende de cada um. Essas situações também ocorrem com os viúvos.
Diante de um novo relacionamento, algumas pessoas ficam receosas de assumir qualquer compromisso perante os filhos, como se fossem um impedimento. Veem neles a imagem do ex-cônjuge e se caso namorassem outra pessoa, trairiam ou causariam algum mal para eles. Como se o fato de se relacionar com outra pessoa, que não o progenitor ausente, fosse algo errado.
Alguns se justificam dizendo que os filhos têm ciúme caso namorem alguém. O que é algo bastante compreensível: além de se sentirem inseguros pelo novo relacionamento de seu genitor, com medo de perdê-lo, ainda o enxerga como o marido da mãe ou a mulher do pai, tornando a nova situação impensável. Sendo que muitos chegam a culpar a nova pessoa como a responsável pelo fim do casamento dos pais.Claro que a situação é mais delicada. Porém, jamais deve ser desculpa para alguém deixar de ter uma vida amorosa. Pôr nas costas dos filhos a responsabilidade de um pai ou uma mãe não mais namorar, é algo que não deve acontecer. Os pais têm, sim, direito de continuar sua vida com outras pessoas.
Nova visão
Para os filhos é mais difícil desvincular as figuras paterna e materna como sendo um casal de namorados. Algo que deve ser muito bem trabalhado pelo adulto: seu papel mudou – não é mais o cônjuge daquele do qual se separou. Ao assumir seu novo status, ajuda a prole a enxergá-lo de maneira diferente.
Além disso, principalmente para os mais pequenos, pode ficar a ideia de que a nova figura vai ocupar o lugar de seu progenitor. As coisas precisam ser esclarecidas para eles: aquela pessoa não vai ser seu novo pai ou nova mãe, isso ele já tem, será apenas o novo parceiro de um dos pais.
E quanto as trocas de carinho? Para muitos fica a dúvida até que ponto uma criança deve ser exposta ao contato físico do novo casal. Ora, qualquer casal de namorado se beija e se abraça. Isso elas já sabem. E como qualquer casal, questões mais íntimas devem se restringir a um lugar adequado, longe das crianças. Como acontece com as pessoas casadas e com filhos.
Não é porque são pais ou mães que a sexualidade deixa de existir. Ela, quando bem vivida, é parte saudável do ser humano. Não deve ser negada.
E para aqueles que se sentem culpados e traindo seus filhos, vale lembrar que ao constatarem que seus pais tem novos companheiros, passado o momento de ciúme, é até um alívio. Muitos se sentem mal por continuarem suas vidas e deixarem seus pais. Às vezes, ficam com suas vidas travadas para não deixá-los sozinhos. Todos devem continuar vivendo. Não é porque um casamento chegou ao final que a vida dos envolvidos tem que estacionar.
(Ana Cássia Maturano é psicóloga e psicopedagoga)
Foto: Ana Cássia Maturano
Especial para o G1, em São Paulo.
Artigo perfeito!
ResponderExcluirCarol, acho que se houvesse mais informação e se as famílias dialogassem mais, tudo seria menos estressante.E, principalmente, devemos ver as duas faces da moeda.
ResponderExcluirQuerida amiga, obrigada pela visita e comentário.
Um abraço.
Rosemary