sexta-feira, 20 de maio de 2011

Fui traída. Logo eu!?


Por que eles traem?
Antropóloga abre discussão acerca da infidelidade masculina
Por Maria Fernanda Schardong



Aconteceu. Aconteceu logo a mim... Orgulho imbecil. Todas
as mulheres acreditam-se singulares, todas pensam
que determinadas coisas não lhes podem acontecer e todas
se enganam.

O texto acima é retirado do livro “Mulher desiludida”, da escritora e feminista francesa Simone de Beauvoir. Na narrativa, a personagem principal descobre, depois de 22 anos de casamento, que seu marido é infiel. Mas não é preciso recorrer à literatura para conhecer casos de mulheres traídas. Na vida real, com a vizinha que mora ao lado ou até mesmo dentro de casa, todo mundo já ouviu falar de casos de infidelidade. E mais antiga até mesmo do que a própria traição é a pergunta: por que eles traem?

Com mais de 20 anos de pesquisa na área, a antropóloga Mirian Goldenberg busca compreender o que faz homens e mulheres serem tão diferentes. E um dos temas mais recorrentes em suas pesquisas é a infidelidade. Segundo ela, apesar da maioria dos infiéis serem do sexo masculino, a porcentagem de mulheres que andam pulando a cerca também vem crescendo. “Em minha pesquisa, 60% dos homens e 47% das mulheres afirmaram ter traído. A fidelidade permanece um valor, apesar das enormes mudanças nas relações amorosas na atualidade. Homens e mulheres traem. Homens e mulheres são traídos. A relação entre discursos, comportamentos e valores se mostra extremamente complexa e paradoxal quando a questão é a (in) fidelidade.”, afirma a antropóloga.
Em seu livro “Por que homens e mulheres traem”, da Editora Bestbolso, lançado em 2010, Mirian traz revelações surpreendentes quando o assunto é traição masculina. “Quando comecei a escrever sobre a Outra, encontrei uma entrevista da demógrafa Elza Berquó que se tornou fundamental para a minha pesquisa sobre infidelidade masculina. O que mais me despertou atenção foi o que ela chamou de determinismo social, uma situação que dá ao homem brasileiro mais chances de encontrar novas companheiras até a idade madura, já que é crescente o contingente de mulheres sozinhas. A maior mortalidade dos homens gera um superávit de mulheres. A demógrafa mostrou que a população brasileira está envelhecendo e que a composição da faixa mais idosa é majoritariamente de mulheres”.
Muitas mulheres e poucos homens. Essa, talvez, possa ser uma explicação razoável a respeito da infidelidade por parte deles. A oferta de mulheres sozinhas no mercado pode ser um motivo a mais para os homens na hora de trair. “Nossa pirâmide social está se transformando em uma pirâmide da solidão, principalmente para as mulheres.
De acordo com os dados demográficos, restam poucas opções para a mulher que envelhece: viver só ser casada com um homem que deve ter uma amante (ou mais de uma) ser a Outra ou se tornar lésbica. Aqui, viver só, que é uma opção de vida bastante desejada pelas mulheres dos países europeus, se torna um verdadeiro fracasso feminino, talvez o pior deles. Essa realidade me fez enxergar a infidelidade masculina com outros olhos. Longe de ser um problema individual, os dados demonstram que existe uma pressão demográfica para que os escassos homens disponíveis se dividam entre a quantidade excessiva de mulheres que buscam um marido”, sugere a antropóloga.

Empenhada em responder a famosa pergunta: afinal, por que eles traem? Mirian foi à campo e fez perguntas sobre as expectativas masculinas e femininas com relação ao casamento e à (in)fidelidade para 1.279 pessoas de classe média do Rio de Janeiro, com entre 18 e 50 anos. Ao responderem por que traem, as motivações foram muitas.
“Os homens se justificam por terem uma natureza propensa à infidelidade. Dos 444 homens que responderam ao questionário, 60% afirmaram que já traíram suas esposas ou namoradas. Eles apontaram, basicamente, um único problema no relacionamento: falta de compreensão”, explica Goldenberg. Mas a questão da traição não esbarra somente na dificuldade que os homens alegam ter de serem compreendidos por suas parceiras. Curiosidade, oportunidade, machismo e até os próprios hormônios masculinos foram citados na hora de justificar uma pulada de cerca.

Uma pergunta sem resposta. Apesar de inúmeras motivações que levem um homem a procurar satisfazer seus desejos fora do casamento, Mirian termina seu livro sem conseguir responder a pergunta que dá título ao mesmo. Entretanto, ela tem uma certeza: a infidelidade está muito longe de ser um fracasso individual. “Tentei mostrar que, como uma pérola rara, a fidelidade permanece como um valor fundamental dos modernos e tradicionais arranjos conjugais na cultura brasileira. Apesar de pesquisar a infidelidade há mais de duas décadas, de ter levantado inúmeras questões e de ter sugerido algumas hipóteses sobre o tema, chego ao final sem conseguir responder conclusivamente à pergunta do título deste livro: Por que homens e mulheres traem?”, finaliza ela.



Fonte: http://www.maisde50.com.br/




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