OS QUE NUNCA PARTEM
Eu me lembro que quando era muito jovem,
ouvia os adultos comentarem:
fulano partiu.
Esta era a forma que eles achavam
menos sofrida de falar que alguémhavia morrido,
principalmente quando estavam perto de crianças.
Era um jeito delicado que eles tinham
de citar a morte sem que ela parecesse
tão chocante.
Cresci e comecei também a falar assim
- fulano partiu -
acabei achando menos dolorido,
menos violento se referir à morte dessa maneira.
Quando se diz que alguém morreu,
dá a impressão que se acabou,
desapareceu e imaginar que alguém que queremos
bem acabou ou desapareceu pra
sempre é terrível.
Dói mil vezes mais do que precisar enfrentar
a sua própria ausência.
Partiu já é diferente,
dá uma sensação de que em algum
ponto da vida nos reencontraremos com
essa pessoa querida novamente.
Fica mais fácil imaginar que ela viajou,
uma viagem sem data pra voltar,
mas com retorno garantido.
Enfim,
descobri recentemente,
que existe uma outra categoria dentro
desse universo.
São aqueles que nunca morrem e,
portanto, jamais partem.
São aqueles que embora desapareçam
de nossas vistas,
eternamente se fazem presentes em
nossa memória e nosso coração.
Os que nunca partem são as pessoas que
nortearam nossos dias,
colocaram um significado importante neles
e deixaram uma marca tão profunda em nós
que não importa onde estejam,
porque ao nosso lado,
de alguma forma,
sempre estarão.
Morrer, partir, são coisas simples,
coisas do dia-a-dia.
Acontece toda hora,em todo lugar,
com todas as pessoas.
Os que nunca partem e os que nunca
passam pela dor de assistir alguém querido partir são os felizardos dessa vida.
Dores momentâneas,
saudades e ausências à parte,
felizes daqueles que amaramalguém nessa vida a ponto de jamais
deixá-los partir de seus corações.
Se quando eu me for,
por desígnio de Deus,
uma única pessoa não me deixarpartir me guardando dentro do seu peito,
eu direi que valeu a pena terpassado por aqui e que minha estada
nessa vida não foi em vão.
Mas enquanto ainda estou por aqui,
só tenho a dizer que dentro de mim morampessoas que nunca deixei que
partissem verdadeiramente,
assim,
como não deixarei que partam,
jamais,
algumas que ainda estão por aqui.
Os que nunca partem são aqueles que
descobriram o segredo de brilhar na terra,
mesmo antes de chegarem ao céu
e se tornarem estrela.
TEXTO: Silvana Duboc.
(Recebi este e-mail texto poético da minha amiga Mara Furley)
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