sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Infidelidade








Quando foi correspondente do Wall Street Journal na América Latina (Brasil inclusive), a jornalista americana Pamela Druckerman ficou surpresa com a frequência com que era assediada por homens casados. Foi então que teve a idéia de escrever Na ponta da língua (Record, 304 pgs. R$44,90; o trocadilho do título original, Lust in translation, realmente se perdeu na tradução).





Trata-se de uma investigação, mais pessoal que científica, sobre o adultério em 24 cidades de dez países, da Rússia ao Japão, dos Estados Unidos à China. Pamela entrevistou psicólogos, sexólogos, conselheiros de casais e, naturalmente, muitos adúlteros, para tentar mapear os códigos da infidelidade em diferentes pontos do planeta. No Brasil, particularmente, sua experiência foi marcante: “Eu senti aí que não há, como nos Estados Unidos, o sentimento de que, se você é casado, as portas estão fechadas e a festa acabou”, explica a autora. “No Brasil, existe a sensação de que a festa continua e pode continuar”.


G1: Nelson Rodrigues, um dramaturgo brasileiro que escreveu muito sobre infidelidade, dizia: “Num casal tem sempre alguém traindo. Se não for você… Huahuahuahua!”




Você concorda com ele? De onde vem essa compulsão para a traição?



PAMELA DRUCKERMAN: Eu posso imaginar um homem brasileiro vendo as coisas assim. Quando se está num círculo onde acontecem muitos adultérios, a impressão que dá é que todo mundo trai. E os brasileiros parecem ser fatalistas em relação ao impulso para a traição. Os homens casados se vangloriam de suas traições com os amigos, enquanto nos Estados Unidos eles sentem medo ou vergonha de falar sobre o assunto. Eu ouvi uma expressão bem brasileira que diz: uma mulher precisa de um motivo para trair, um homem só precisa de uma mulher. Mas me disseram que as mulheres brasileiras vigiam muito seus maridos. Elas sabem o risco que correm.





G1: Quando você era assediada por homens casados no Brasil, achava isso repugnante. Depois de escrever esse livro, você se tornou mais tolerante e liberal?



PAMELA: Acho que hoje eu estaria menos predisposta a fazer sermões lembrando aos homens as suas responsabilidades com suas esposas. E também já não comparo os homens que traem a Saddam Hussein, como costumava fazer - com Saddam levando vantagem. Hoje procuro pensar como os franceses, que vêem a infidelidade como a parte desagradável do conto de fadas, e não necessariamente o fim da história. Mas continuo me recusando a dormir com homens casados. Antigos hábitos demoram a desaparecer.





G1: Conte alguns episódios curiosos que você viveu ao longo da sua pesquisa.



PAMELA: Os homens japoneses me disseram que “quando se paga por sexo, não é traição”. Achei isso interessante. Mas com certeza isso não funcionaria em Nova York. Nos Estados Unidos, o melhor é sequer pensar em outra mulher, além da sua esposa. Mas é claro que todo mundo pensa.





G1: As diferentes atitudes em relação ao adultério têm alguma relação com fatores econômicos?




PAMELA: O dinheiro nunca é o único fator, mas sempre conta. Na China eu visitei um “vilarejo das segundas esposas”, vizinho a Hong Kong, onde os homens casados da cidade man´têm suas amantes. A presença de tantas mulheres lá é explicada em parte pelo boom da economia chinesa: elas migram para as cidades achando que vão conseguir emprego em fábricas. Houve uma migração em massa de mulheres chinesas do interior para os centros urbanos, e elas acabam se instalando nesses vilarejos da periferia. Mas ter mulheres pobres perto de homens ricos não explica tudo. É necessário ter uma história cultura que seja complacente com o adultério. O comcubinato, homens com mais de um casamento, está presente em toda a História chinesa, por isso eles se convenceram de que esse comportamento é “autenticamente chinês”, que não deve ser julgado por padrões estrangeiros. Naturalmente as esposas oficiais não concordam muito…




G1: A Rússia é a capital mundial do adultério?



PAMELA: Antes mesmo de visitar a Rússia eu já sabia que este é um dos países mais permissivos do mundo em relação à infidelidade. Mesmo assim fiquei chocada ao ver como isso acontece na prática, no cotidiano. O adultério é tratado como um vício muito leve, como fumar um cigarro ocasionalmente, ou ainda, como uma maneira de relaxar. Um psicólogo de famílias me disse lá que ter casos é “obrigatório”. E o povo russo tem ditados do tipo: “Uma boa aventura fortalece o casamento”. O único homem russo que entrevistei que jurou nunca ter traído a mulher já estava me passando uma cantada, no final da entrevista.



G1: Os homens sofrem mais que as mulheres diante de uma traição? É assim em todas as partes do mundo?





PAMELA: Todo mundo, em toda parte, sofre quando é traído. Essa foi uma das vantagens de fazer essa pesquisa, porque todas as pessoas têm algo a dizer sobre o assunto - tanto homens quanto mulheres. Assim que eu apresentava o tema, meus entrevistados diziam: “Eu tenho uma ótima história para contar!”



G1: O que fez você escrever esse livro? Você já traiu? Já mfoi traída?




PAMELA: Como todos os americanos, sou uma péssima adúltera. Eu me sinto tão culpada que não consigo sequer sentir prazer. Espero que qualquer homem que me tenha enganado tenha sentido a mesma coisa. Escrevi o livro para mapear as raízes desse sentimento e tentar entender como as pessoas em outras culturas lidam com isso de formas diferentes.






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