quinta-feira, 27 de maio de 2010

Fada - Madrinha dos Filhos dos Catadores de Lixo - Niterói







Na coluna Bate-papo, conheça a história de uma ex-guia de turismo que cuida dos filhos de catadores de lixo no Morro do Céu, em Niterói. Em 17 anos de atividade, dona Edith Homem deu comida, roupas, reforço escolar e aconchego para mais de mil crianças.







Estar no esplendor do Teatro Municipal de Niterói para falar de crianças de um lixão parece uma incongruência absurda. Mas só parece. Porque cultura e luxo deveriam ser acessíveis a todos – pobres, ricos, remediados, todo mundo. Mas para isso é preciso um caminho, é preciso despertar os sonhos. E isso vem sendo feito em Niterói mesmo, há 17 anos, por dona Edith Tompson Homem.



Edney Silvestre: A senhora é um tanto fada-madrinha da vida real de mais de 200 crianças. Como começou essa “briga”?



Edith Tompson Homem: Até me chamam de mulher guerreira. Luta é conosco. Foi um trabalho muito grande. Fazia a conscientização das mães, do bem que nós poderíamos fazer aos filhos delas, tirando do lixão.



Mas é surpreendente que uma mulher de classe media, como é o caso da senhora, com seis filhos criados, se dedique a um trabalho em um lixão. A senhora poderia estar viajando, com a sua filha no exterior, ou passeando como guia turística. Por que o lixão?



É o meu ideal. O ideal é o amor, é vontade de vencer a luta. E vence. Eu sei que as crianças foram aumentando. Nós tivemos que ampliar a casa, que era pequena, e hoje nós temos uma casa, temos um lanche às 14h, um jantar às 16h, e às 17h as crianças estão saindo de banho tomado, dentinho escovado, mãos limpinhas.



A senhora tem uma sétima filha: uma criança que a senhora adotou que foi deixada lá?



Quantas vezes me disseram: “Como você vai entregar esse neném para um homem bêbado?”



E a senhora não entrega?



Às vezes, eu entregava. É o pai da criança. Mesmo ele bêbado, ele era o pai da criança. Teve um dia que eu não acreditei que ele ia levar direito para casa. Estava chovendo. Eu pensei: “Esse homem vai deixar essa criança cair. Vai escorregar com ela”. Ai eu fui atrás. E não é que ele estava deitado embaixo da árvore, espichado, e a nenê dormindo em cima da barriga dele? Dormindo na chuva! E estava chovendo muito. Eu tirei a neném, arrumei a roupa dele e desci. Fui numa favelinha que tinha embaixo e falei com a esposa dele: “Eu vou levar a neném para casa hoje outra vez”. Ela me disse: “Acho que a senhora pode levar, porque eu não tenho leite para dar. No fogão, eu não tenho gás. A senhora pode levar”. A nenê era pequenininha (chora). Vou pular esse pedaço.



No palco do Teatro Municipal de Niterói, crianças que fazem parte da Creche dos Girassóis, um projeto da dona Edith Tompson Homem (Edith Thompson Homem de Mello), aplaudiam de pé a “mulher guerreira”.



“O de calça comprida, a mãe chegou na creche, botou no peito e disse: ‘Cuida para mim que eu não tenho como'”, lembra dona Edith, emocionada.



“O ideal é vontade de vencer a luta. E vence”, finaliza dona Edith Tompson Homem. (Edith Thompson Homem de Mello)



A prefeitura de Niterói, responsável pela usina de reciclagem do Morro do Céu, informou que autoriza a permanência e o trabalho dos catadores no lixão e disse também que dá apoio e assistência às atividades de Dona Edith Tompson Homem de Mello.



Creche "Os Girassóis"

Rua Arthur Pereira da Motta, nº 272 - casa, Morro do Céu, ao lado do Vazadouro Municipal / Niterói

Tels - 2618-1532 / 3607-6889









Depois da entrevista, Dona Edith participou de um Bate-Papo, cuja transcrição vai a seguir: RJTV

Quando rolou 11/03/2006 - 12:30



Creche Os Girassóis: semeando um futuro melhor com Dona Edith. Acompanhe abaixo o bate-papo com ela!





Moderador fala para a platéia: Logo após o RJTV, você conversa com Edith Thompson, fundadora da Creche Os Girassóis. Enviem suas perguntas desde já.



Sra. Edith Homem fala para a platéia: Boa tarde!



Moderador apresenta a mensagem enviada por Jorge : Dona Edith, como foi que a senhora teve a idéia de montar a creche? Há qto tempo ela existe?

Sra. Edith Homem responde para Jorge : Ela existe há 17 anos. Tivemos a idéia com a situação que existia próximo a nós. Ficamos com vontade de fazer a creche.



Moderador apresenta a mensagem enviada por Luci : qual foi a maior dificuldade que a senhora já enfrentou em todos esses anos de creche?

Sra. Edith Homem responde para Luci : Dificuldades a gente sempre tem, sempre muitas. A maior dificuldade, logo no começo, era providenciar alimentação e roupas, tudo isso. Mas foram as primeiras dificuldades.



Moderador apresenta a mensagem enviada por Thiago : Quantos funcionários trabalham na creche atualmente? São todos voluntários?

Sra. Edith Homem responde para Thiago : Trinta funcionários e não são voluntários. Recebemos uma verba através de um convênio com a Secretaria de Educação. Não chega a ser um salário grande, até porque elas trabalham em período integral, mas elas ficam satisfeitas e trabalham muito felizes.



Moderador apresenta a mensagem enviada por Tuty : O que acontece com as crianças que passam dos sete anos? Vcs têm contato com elas depois que saem da "Girassóis"?

Sra. Edith Homem responde para Tuty : Temos contato constante. Todas as crianças moram no Morro do Céu, em torno do prédio da creche. De seis e meio, a sete anos, elas vão para a escola. E os maiores frequentam um projeto social no Morro do Céu.



Moderador apresenta a mensagem enviada por Aninha : Pq a senhora escolheu o nome Girassóis para a creche?



Sra. Edith Homem responde para Aninha : O nome da associação é Associação Filantrópica Bem-Me-Quer. Mas a creche foi batizada dessa maneira por causa da força da planta. E também porque havia muito girassol no lixão.



Moderador apresenta a mensagem enviada por Caio : A creche conta hoje com quantas crianças? Como é o processo de aceitação delas? Existe alguma triagem, ou qualquer criança pode fazer parte da instituição?



Sra. Edith Homem responde para Caio : São, ao todo, 237 crianças. A primeira exigência é que elas sejam do Morro do Céu e que os pais trabalhem no lixão do Morro do Céu. Mas, à medida do possível, atendemos outras crianças da comunidade.



Moderador apresenta a mensagem enviada por Mary : Qual é a rotina das crianças na creche? A que horas elas entram, saem, o que elas fazem lá durante o dia?

Sra. Edith Homem responde para Mary : A rotina das crianças é uma rotina meio apertada. Elas têm que estar às 8h na creche. Às 8h30 elas estão tomando café com pão, manteiga, chocolate. Depois elas volta para a salinha onde têm atividades pedagógicas. Depois servimos almoço para o maternal, a seguir para os primeiros períodos e, por último, as crianças que vão para a escola municipal. E, além desses trabalhos, temos banho, dentinho escovado, uma dormidinha e lanchinho. E depois elas jantam e ficam prontinhas para serem buscadas pelos pais no fim do dia. Ao todo são quatro refeições, muito gostosas.



Moderador apresenta a mensagem enviada por LiLian : Em relação à alimentação das crianças, como são escolhidos os alimentos? Existe algum acompanhamento nutricional?

Sra. Edith Homem responde para LiLian : Nós recebemos alimentação da merenda escolar através de um convênio com a Prefeitura de Niterói. O cardápio é feito por nós e com assistência de uma nutricionista que sempre está lá conosco. Eles têm que comer cores. É muito bem preparado.



Moderador apresenta a mensagem enviada por Beth : Dona Edith, admiro muito o seu trabalho com as crianças, mas gostaria de saber se a senhora já teve algum problema com elas, por exemplo birra, mal criação, brigas, afinal, com tantas crianças juntas deve ser meio difícil de controlá-las, não é mesmo? Um beijo para a senhora!



Sra. Edith Homem responde para Beth : Isso acontece. Desde pequenininhos, eles já brigam e já fazem uma porção de estripulias. Os pequenininhos às vezes mordem, os grandões brincam de lutinha. Mas sempre é possível controlar. Quando a mal-criação é muito grande, ele vai conversar com a diretora ou comigo e as coisas são contornadas. Nunca tivemos um problema grave demais.



Moderador apresenta a mensagem enviada por Leo : Dona Edith, é verdade que a senhora abandonou a carreira de guia de turismo para cuidar das crianças? A senhora já ajudava alguma instituição antes de ter a sua?



Sra. Edith Homem responde para Leo : Eu já não estava trabalhando e morava muito próximo ao Morro. Fiquei conhecendo muito bem as necessidades das crianças. E me dedico desde sempre.



Moderador apresenta a mensagem enviada por LiLian : Como faço para entrar em contato com a creche? Vcs estão aceitando voluntários lá?



Sra. Edith Homem responde para LiLian : O contato com a creche pode ser feito por telefone: (21) 2618-1532 e (21) 3607-6889. Esses são os dois telefones. E podemos receber visitas sempre de 8h às 17h, próximo ao lixão.



Moderador apresenta a mensagem enviada por Guto : Dona Edith, tenho muita vontade de abrir minha própria ONG. Qual seriam os conselhos que a senhora daria pra quem, como eu, tem esse sonho?



Sra. Edith Homem responde para Guto : A primeira coisa é ter um sonho, depois é descobrir algum espaço que está precisando dele. Acho que é por aí. E ele pode ir até nossa creche conversar conosco.



Moderador apresenta a mensagem enviada por Amadeu : Já aconteceu de algum pai abandonar a criança na creche? Como vocês agiram?



Sra. Edith Homem responde para Amadeu : Às vezes acontece. Muitas vezes eles deixavam na creche e não iam buscar. Muitas crianças dormiam na minha casa. Mas sempre procuramos conscientizar que o importante é a família reunida.



Moderador apresenta a mensagem enviada por Pétala : Sra. Edith sou assistente social da prefeitura do Rio de Janeiro e fiquei maravilhada com o seu trabalho. Onde está localizada a creche?



Sra. Edith Homem responde para Pétala : Está localizada no Morro do Céu, no bairro do Caramujo. Rua Arthur Pereira da Mota, ao lado do lixão. É um lugar muito bom, muito agradável. Nossa casa, hoje, é muito agradável mesmo.



Moderador apresenta a mensagem enviada por Foini : eu me chamo Daniela e achei mto interessante o trabalho da sra Edith...como faria para fazer um trabalho com elas aos fins de semana?



Sra. Edith Homem responde para Foini : No final de semana, não. Como nós começamos esse trabalho atendendo filhos de catador e eles não trabalham no sábado ou domingo, também não funcionamos nesses dias. As crianças que têm necessidade maior, nós proporcionamos.



Moderador apresenta a mensagem enviada por Guto : Gostaria de saber se existe algum trabalho realizado com os pais das crianças, algum tipo de ajuda.



Sra. Edith Homem responde para Guto : Nós sempre temos reuniões com os pais. E as reuniões são mutio bem frequentadas. Pai, mãe, às vezes avó. Fazemos sempre orientação, temos uma médica que dá orientações. Temos um posto de saúde bem próximo e todas as crianças são cadastradas e são muito bem assistidas pelos médicos de lá.



Moderador apresenta a mensagem enviada por Marcia : gostaria de saber se é realizado algum tipo de apoio psicológico com as crianças da creche.



Sra. Edith Homem responde para Marcia : Não podemos proporcionar isso para as crianças, mas são encaminhadas para os órgãos competentes e sempre assistidas. Para fazer fono, ter assistência psicológica. Sempre que precisam, elas têm tudo isso.



Moderador apresenta a mensagem enviada por Nathalia : Gostaria de saber se vocês precisam de doações para a creche?



Sra. Edith Homem responde para Nathalia : Precisamos. Temos convênios, mas tem uma parte que não entra no convênio, que é a higiene da criança e a higiene do próprio prédio. São fraldas descartáveis, toalhas de mesa, papel higiênico, escovas de dentes, que sempre precisam ser trocadas. Então, nós precisamos de todo esse material. E outros materiais, como roupas usadas, mas em bom estado, sapatos. Toda doação é sempre muito bem recebida.



Moderador apresenta a mensagem enviada por Leandro : com tanta violência em comunidades carentes e morros, ex. a situação dos confrontos que estão ocorrendo hoje, como consciliar este problema (violência) com a tentativa de ajudar uma comunidade?



Sra. Edith Homem responde para Leandro : Realmente, a questão da violência nas comunidades é muito grande, muito grande mesmo. No Morro do Céu em si, não temos tanta violência. Dá para a gente conversar com as crianças sobre a violência, com as mães também, conscientizando o valor de uma vida com paz, diferente. O problema social é muito grande na nossa área. Mas, para mim, por exemplo, acho que não existe perigo, não. Estamos ali proporcionando tudo para o filho de quem quer que seja. Estamos atendendo seja ele filho de qualquer de pessoa. Nunca a nossa casa foi assaltada, desrespeitada. Às vezes eu acho que eles nos protegem. Deus está conosco!



Sra. Edith Homem fala para a platéia: Desculpe a emoção em alguns momentos, mas fiquei muito feliz de ter podido falar e responder a algumas perguntas. Estamos às ordens na creche para recebermos visitas, ligações. Muito obrigada a todos!






Moderador fala para a platéia : Pessoal, o chat com Edith Homem, fundadora da Creche Os Girassóis, fica por aqui. Obrigada pela participação de vocês!


Fonte:
http://www.laralternativogirassois.kit.net/reportagens/fada_marinha.htm

 























4 comentários:

  1. Que maravilhoso trabalho dessa senhora, a Dona Edith. Muito bom compartilhar conosco essa entrevista em seu blog, amiga. Um dia muito produtivo e feliz para você.
    Edilza

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  2. Querida amiga,boa noite!

    Realmente, ela é um exemplo de ser humano.A SrªJudith é uma grande mulher.

    Compartilhar...somar,dividir,multiplicar, sempre. Isso tudo só dá prazer e faz bem ao coração.
    Obrigada pela visita e comentário.

    Desejo a você uma ótima sexta feira.
    Um abraço.

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  3. Oi! Gostei da entrevista com a senhora Thompson. Moro em Niterói, como voluntário no ano que ocorreu a trajédia, pude perceber quem eram meus vizinhos de cond. e alguns quarteirões, já que arrecadei algum dinheiro e mantimentos na época com vizinhos e amigos, dei o equivalente a 10 hs do meu tempo diariamente no clube Canto do Rio e em uma escola perto da minha casa que abrigava cerca de 160 pessoas. Foram quase 30 dias da minha vida, mas que valeram por um ano de experiência. Afinal, pude peceber, um pouco, o funcionamento da máquina adm da minha cidade, a falta de apreço da maioria pessoas, inclusive eu, pelo problemas que estavam à nossa frente e ignorávamos (miséria, desnutrição de crianças, casas em terrenos de "xurume", falta de cultura e educação e comida para muitos - maioria negros e pardos deve-se ressaltar). Por isso ao ler e ver essa professora da vida que se mostra senhora Edith Thompson Homem me senti empenhado em proseguir com meu projeto de levar debates de filmes sobre reciclagem para espaços culturais. Apesar da dificuldade em captar recursos, vou prosseguir mesmo sendo sozinho nessa estrada. Obrigado por divulgar história tão importante e inspiradora!pedrouro.blogspot.com

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  4. Olá Pedro!

    Obrigada pela visita e comentário. Disponha!

    Fiquei contente com o seu depoimento, porque ele mostra que podemos mudar,mas não devemos esperar nada em troca.Talvez,um muito obrigada.

    Ah! Você não está sozinho nunca, porque Deus está sempre com você.

    Claro, trabalhe no seu projeto e desejo-lhe sucesso. Gostaria de saber mais sobre ele,pretendo ajudá-lo de alguma maneira.
    Entre em contato pelo meu e-mail é bloggermarypop@hotmail.com


    Ops: Não consegui ver o seu site.Que pena!

    Atenciosamente,
    Rosemary Q.

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