Artesãs do Espraiado levarão suas tapeçarias bordadas para Paris
Vera Lúcia Bastos, 59 anos, Ilma Macedo, 60, Maria de Lourdes Pereira, 53,
três das oito tapeceiras que realizam em casa, num bairro rural de Maricá,
as verdadeiras obras de arte em forma de tapete.
Foto: Júlio Silva
Das mãos simples e caprichosas nascem tapeçarias de bordados únicos através de uma técnica tão exclusiva que ganhou o nome de Ponto Brasileiro. Na comunidade do Espraiado, a poucos quilômetros do Centro de Maricá, o grupo Tapeceiras do Espraiado escreve seu nome com linha e agulha na cultura brasileira. Em setembro, a riqueza nos detalhes destas peças deixará de ser exclusiva para poucos e será exposta em Paris, berço da moda e do bom gosto.
Tudo começou com a artista franco-brasileira Madeleine Colaço, que desenvolveu a técnica singular. A complexidade da trama foi passada para esta comunidade, onde ela possuía casa, ficando restrito às tapeceiras daquela região todo o conhecimento do bordado.
Por pouco a arte das tapeceiras não acabou. O desinteresse dos jovens e a falta de investimento dificultaram o caminho do grupo, atualmente formado por oito artesãs. Ilma Macedo, 60 anos, coordenadora das tapeceiras, recorda a importância do trabalho.
Por pouco a arte das tapeceiras não acabou. O desinteresse dos jovens e a falta de investimento dificultaram o caminho do grupo, atualmente formado por oito artesãs. Ilma Macedo, 60 anos, coordenadora das tapeceiras, recorda a importância do trabalho.
“Esse trabalho começou por volta de 1956. Em 2003, o Sebrae do RJ nos convidou para formar um grupo e não deixar a cultura morrer. Depois, ficamos sem investimento. Foi uma dificuldade, mas nos mantivemos, e agora voltamos a ter esse apoio ao levarmos o bordado para outras peças, como bolsas, pois tapeçaria é difícil de vender”, conta.
Essa dificuldade está ligada ao imenso trabalho que se tem para fazer uma peça. Em média, levam cinco meses bordando minuciosamente e a venda leva tempo igual ou maior. A renda demora bastante e a divisão para todas as artesãs, que trabalham em casa, torna o valor muito aquém do precioso trabalho. O investimento do Sebrae no grupo possibilitou a transação da técnica para outros materiais, garantindo uma produção maior e um retorno financeiro mais rápido.
“O objetivo do projeto é, através dos consultores do Sebrae, permitir que elas possam acessar o mercado sem desistir da tapeçaria, mas gerando renda com produtos mais acessíveis. Hoje está mais fácil negociar com bolsas, agendas, carteiras que geram esse dinheiro para o grupo se manter. Isso não estava acontecendo com a tapeçaria pela demora na produção”, diz Sandro Ferreira de Lima, superintendente da Agência de Desenvolvimento Municipal de Maricá (ADM), órgão da cidade conveniado ao Sebrae.
Rumo a Paris
O convênio entre Sebrae e Tapeceiras do Espraiado, previsto até 2011, já rendeu duas exposições no Rio-à-Porter, salão de negócios de moda e design, que acontece paralelamente ao Fashion Rio, além de um convite para expor no Prêt-à-Porter, em Paris, na França, em setembro deste ano.
“Dos 40 grupos com os quais o Sebrae trabalha, apenas nove foram selecionados para o Rio-à-Porter e elas foram por terem um trabalho mais desenvolvido. A comissão que define os grupos que vão para Prêt-à-Porter esteve no Rio e convidou as Tapeceiras do Espraiado. Agora vamos gerar um CNPJ para podermos ter nota fiscal, expor, transportar, vender os produtos como empresa. As negociações por enquanto são feitas pessoalmente. Agora elas terão mecanismos profissionalizados de acesso ao mercado, como catálogos, participações, atendimento dos pedidos”, diz o superintendente da ADM.
Para as tapeceiras Maria de Lourdes Pereira da Silva, 53 anos, e Vera Lúcia Bastos de Macedo, 59 anos, a felicidade de ver o ofício que aprenderam ainda meninas tomando rumos internacionais é mais que gratificante, é a resposta de anos de dedicação ao bordado, muitas vezes única fonte de renda.
“Quando acabou a tapeçaria, fiquei sem fonte de renda. Às vezes, quando não tinha trabalho, ficava pensando nisso. É um trabalho que me faz muito bem, muito feliz, tenho muito amor por ele”, completa Vera Lúcia.
O próximo passo é a construção de um ateliê para exposição permanente.
O Fluminense
Muito legal ver o reconhecimento internacional do valor do artesanato brasileiro... de Maricá!
ResponderExcluirO Sebrae e a internet colaboraram muitíssimo com a profissionalização dessa arte e proporcionaram a divulgação internacional.
ResponderExcluirMaricá tem pessoas talentosas como em qualquer outro lugar.E,sem dúvida,temos grandes artesãos,espalhados pelo nosso imenso Brasil, que são reconhecidos internacionalmente pela criatividade.
Grata pelo comentário.