Uma Palmada Bem Dada
Cecília Meireles
É a menina manhosa
Que não gosta da rosa,
Que não quer A borboleta
Porque é amarela e preta,
Que não quer maçã nem pêra
Porque tem gosto de cera,
Porque não toma leite
Porque lhe parece azeite,
Que mingau não toma
Porque é mesmo goma,
Que não almoça nem janta
porque cansa a garganta,
Que tem medo do gato
E também do rato,
E também do cão
E também do ladrão,
Que não calça meia
Porque dentro tem areia
Que não toma banho frio
Porque sente arrepio,
Que não toma banho quente
Porque calor sente
Que a unha não corta
Porque fica sempre torta,
Que não escova os dentes
Porque ficam dormentes
Que não quer dormir cedo
Porque sente imenso medo,
Que também tarde não dorme
Porque sente um medo enorme,
Que não quer festa nem beijo,
Nem doce nem queijo.
Ó menina levada,
Quer uma palmada?
Uma palmada bem dada
Para quem não quer nada!
Não existe palmada bem dada
Ah, que coisa boa ver projetos sensatos, coerentes e inteligentes de legislação. Concordo que pais que dão uma palmada em seus filhos não devam ir presos, mas já era hora de a sociedade parar de achar normal crianças levarem palmadas, beliscões e puxões de orelha. Como esperar ter uma sociedade de adultos que repudiam a violência quando eles crescem aprendendo que palmadas são uma punição "necessária" e ouvindo seus pais e pares dizendo que "batem para educar"? A neurociência já aprendeu que violência muda o cérebro e gera mais violência (ou impotência, meio caminho andado para a depressão). E como fica o amor de um filho por seus pais agressores? Misturado com medo?
Para meus filhos, certamente não: deles quero apenas afeto e admiração, sem jamais uma mácula de medo no olhar. Medo deveria ser a última coisa que uma criança precisasse sentir dos pais. E antes que proteste o leitor que acha necessário aplicar palmadas para educar e ironize perguntando, provocador, se de fato jamais bati em meus filhos: não, jamais. Aqui em casa se conversa. Quem sabe falar não precisa bater.
Por: Suzana Herculano-Houzel
Lauro Monteiro: Contra a 'Lei da Palmada'
Pediatra
Rio - A criança é um ser em constante desenvolvimento, em constante aprendizado. Mas é criança e reagir, contestar, desobedecer fazem parte do seu comportamento normal. Preocupo-me com crianças que nunca reagem às determinações dos pais. Que nunca dizem não. Mas os pais têm como função e obrigação educar seus filhos. Sendo assim os pais têm que ensinar aos filhos os limites.
E como estabelecer os indispensáveis limites? O que fazer diante da criança que reage às determinações dos pais? Parto do princípio que devemos rejeitar qualquer forma de castigo físico. E não me refiro às graves agressões que tanto vi na minha vida de pediatra. Falo do que, para meu espanto, muitos aceitam e justificam e incentivam: o bater para educar, a chamada ‘palmada pedagógica’.
Em relação à palmada vivemos um momento de grande importância: o assunto está sendo fartamente divulgado e discutido na mídia. Pesquisas e opiniões são mostradas nos jornais, revistas e TVs. Nas rádios são frequentes os debates. E isso é muito bom. E devemos agradecer ao grande marketing que conseguiu a ‘Lei da Palmada’. Esse, e apenas esse, é o mérito dessa lei. De resto creio ser ela ineficaz e oportunista. Alguém crê que os pais deixarão de dar palmadas nos filhos por causa da ameaça da lei ? Tenho falado da politização e da criminalização da palmada.
Isso é inaceitável. A solução não virá por aí. Já está nas nossas leis: crianças têm o direito à saúde, à educação, à vida em família e devem ser protegidas contra qualquer forma de agressão ou negligência. Que os governos e a população cumpram as leis já existentes.
Se é para criar leis novas vamos criar a lei do carinho, do afeto, da presença, dos cuidados constantes, do bom exemplo e da autoridade firme que estabelece limites respeitando seus filhos.
Maria Luiza Bustamante: A favor da 'Lei da Palmada'
Professora Doutora e psicóloga
Rio - Essa lei que pune os pais que maltratam e batem nos filhos foi votada recentemente na Câmara, justamente dentro de uma série de providências que criaram e instalaram recursos para fazer valer os direitos das crianças.
Alguns segmentos da população estão protestando contra a lei. Mas ela se tornou necessária por causa de um número significativo de assassinatos de crianças que ocorrem com frequência. O infanticídio não é novidade na história da humanidade mas, com a implementação dos direitos da criança ele se tornou mais visível.
A quem essa lei vai assustar? Justamente aos pais que se sentem inseguros em relação a como educar seus filhos. Educar bem uma criança é difícil, desgasta muito. É trabalho sem fim.
Acontece que os adultos têm cada vez menos tempo para dar atenção e se ocupar com elas. Mas as crianças continuam sua trajetória em direção à vida adulta. E isso incomoda muito aos adultos, que por vezes fazem coisas que não deviam e se zangam quando são descobertos.
As causa de maus tratos e da violência estão numa sociedade que finge que não sabe das imensas necessidades das crianças e se ocupa muito pouco dela . E quando o faz é sempre de forma descontinua e superficial.
A maioria dos casos de maus tratos e de espancamento é cometida por mães estressadas e sem condições de parar e dar afeto e carinho aos filhos. Os casos de violência física e sexual são cometidos, geralmente, por pais e parentes que vivem dentro da mesma casa.
Assim, essa ‘lei-advertência’ diz que é preciso ter cuidado pois, espancar ou bater é covardia e não ajuda a educar. As leis são benéficas, precisam ser explicadas e divulgadas para o público em geral. E ainda: precisam ser regulamentadas para atingir seus objetivos, que é punir os culpados.
Fonte dos textos:
http://odia.terra.com.br/portal/conexaoleitor/
http://www.suzanaherculanohouzel.com/journal/2010/7/18/no-existe-palmada-bem-dada.html
Fonte da imagem: http://www.plenarinho.gov.br/educacao/imagens/bater-nas-criancas-resolve/bater-na-crianca-resolve01.jpg
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