HAJA PACIÊNCIA
Acompanho na mídia a propaganda eleitoral gratuita. Alguma coisa boa nela há, ao lado de muita besteira, com doses elevadas de cinismos e oportunismos, vindas de candidatos com extensa folha de serviços públicos e conhecidos por péssima conduta política. Na verdade, tais cenas têm raízes históricas — em 63 a.C., Cícero, no senado romano, comprovando que Lúcio Catilina conspirava contra a Répública, indagou: “Até quando, Catilina, abusarás da nossa paciência?”.
Quantos conspiram visivelmente contra o povo brasileiro e pedem, com profunda sem-vergonhice e estudada humildade, o nosso voto? Até quando gastarão nossa paciência? Tais figuras merecem receber e-mail com aquele célebre dito de Camões: “Não se pode ter paciência com quem quer que lhe façam o que não faz”.
A novidade da Ficha Limpa – com lei apoiada por assinaturas de 1, 3 milhão de pessoas – sem dúvida é exemplo do quanto podemos melhorar a classe política. Apesar disso, ainda há gente de Ficha Suja querendo aprovação nos tribunais e nas urnas – o sujeito com dinheiro ilegal em banco no exterior, com muita cara de pau, a asseverar que o dinheiro não é seu; a turma do esquecido mensalão sendo até elogiada por autoridades e candidatos à presidência do Brasil. Nessas e em outras instâncias de intenso descaramento, parece valer a antiquíssima lição de Sêneca: “O que não se pode corrigir ou evitar é bom suportar com paciência”.
Haja paciência, pois, para: – aturar ainda as eternas promessas quanto à resolução dos sérios problemas de educação, saúde, segurança e transporte; – criar filhos em ambientes ameaçados por balas perdidas; — identificar tantos jovens consumindo e vendendo crack por R$ 1; – registrar indivíduos que, impunemente, praticam pedofilia e incentivam a prostituição infantil; – acreditar que, “em breve”, teremos UPAs e UPPs em todos os cantos do país; – comprovar o quanto o projeto Bolsa Família também colabora para “eternizar” subcondição humana em taxas de baixa sobrevivência física e psíquica: – acumular baixos índices de real aprendizagem escolar, elevados indicadores de mortalidade e inúmeras outras mazelas.
Só tem paciência quem, também, possui esperança. Com as duas, lucidamente, no próximo pleito, vamos dar um basta a demagogos que vivem numa riqueza que não pode ser honestamente comprovada. Chega de ficar perguntando até quando? Como a paciência é aparentada da sabedoria, tenho uma firme premonição: serão votados à execração e ao desprezo muitos velhacos e espertalhões que esperam cargos sem encargos. A democracia ajuda a consolidar o quanto a paciência pode contribuir para a cívica consciência.
Por Fernando de Aviz - jornalista, escritor e professor
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